Gêneros textuais

O estudo da Língua Portuguesa sempre significou um desafio para professores(as) e alunos(as). A riqueza do nosso idioma e sua gramática complexa respondem, em parte, pela dificuldade em aprendermos a nos expressar — tanto de forma oral quanto por escrito — corretamente em Português.

Não ajuda também o fato de professores(as) nem sempre disporem de conhecimento e prática didática adequados para desenvolver as requeridas competências de comunicação escrita e oral em crianças e adolescentes. Regra geral, as orientações curriculares e os recursos disponíveis limitam em muito a tarefa dos docentes.

É preciso citar também a recente ascensão e predominância da cultura audiovisual, em especial entre as gerações mais jovens nascidas e criadas em ambientes saturados de imagens reproduzidas em TVs, smartphones e tablets — mesmo as escolas se renderam ao usos desses dispositivos, que passaram a ser vistos como aliados no processo de ensino-aprendizagem.

Soma-se a tudo isso a pouca ou nenhuma familiaridade do(a) professor(a) com as recentes pesquisas sobre aprendizagem, linguagem e didática produzidas nas universidades brasileiras e estrangeiras, com destaque para os estudos sobre linguagem.

Em tempo: em artigos futuros, teremos a oportunidade de voltar a falar de forma mais demorada sobre o ensino da produção textual (oral, escrita e multissemiótica) e dos gêneros textuais na perspectiva do Interacionismo Sociodiscursivo, com ênfase na Modelização Didática de Gênero e na Sequência Didática propostas por essa abordagem.

Pois bem, esse é, portanto, o contexto (nada animador, ressalte-se) no qual o(a) professor(a) de Língua Portuguesa deve ensinar a expressão escrita e oral, em geral, e os gêneros textuais, em especial.

 

Construindo e compreendendo textos

 

Estudiosos definem um texto como toda manifestação oral, escrita ou simbólica de uma ideia ou pensamento com objetivo de transmitir uma informação, dar uma orientação, gerar um comportamento, produzir uma reação emocional, persuadir, acautelar, direcionar, comandar etc.

No contexto da sala de aula e do ensino da Língua Portuguesa, o texto ganha outras dimensões, porque passa a ser tanto objeto de estudo quanto produto de atividades didáticas várias. Na verdade, a compreensão do texto e sua produção ocorrem em paralelo e de forma simultânea.

Como já foi ressaltado no início deste artigo, a riqueza do nosso idioma oferece, por vezes, certa dificuldade para a pessoa que faz uso dele. Por outro lado, é essa mesma prodigalidade da língua que vai responder pelas muitas possibilidades de produção de um texto. Daí o interesse no estudo dos gêneros textuais.

Do ponto de vista do(a) professor(a), trata-se de um instrumento de ensino e aprendizagem, mais precisamente para ensino da gramática da língua no contexto da estrutura linguística dos gêneros textuais.

 

Os gêneros textuais

 

Mas o que são gêneros textuais? São estruturas ou modelos que usamos para produzir atos de comunicação na forma de um texto escrito ou de um texto falado.

Embora esses atos de comunicação possam existir, por exemplo, na forma de e-mails, reportagens jornalísticas, entrevistas e mensagens de aplicativos de celular, é mais comum associarmos os gêneros textuais a formas mais complexas e artísticas como contos, fábulas, romances, crônicas e novelas. Obviamente que nessa lista também devemos incluir receitas de culinária, textos científicos, editoriais, peças publicitárias etc.

Praticamente toda comunicação faz uso de um gênero e a razão para ser assim é que as estruturas dos gêneros tornam os atos de comunicação mais previsíveis e, consequentemente, mais eficazes na transmissão de informações.

Um texto (e por consequência, um gênero textual) tem sempre uma intenção embutida no discurso, seja informar (matéria de jornal), contar uma história (fábula), persuadir o outro (texto de propaganda) ou emitir uma opinião (editorial).

A mensagem do texto (aquilo que ele enuncia) depende das condições de sua produção, ou seja, é preciso saber quem comunica, para quem comunica, como comunica, qual meio usa para comunicar e qual finalidade ou intenção se pretendeu ao comunicar. E isso independe do gênero empregado.

Neste ponto, convém fazer uma distinção importante entre entre gênero textual e tipo textual. No primeiro caso, como vimos, tratam-se de estruturas ou modelos que determinam a composição do texto, sua forma, por assim dizer. Já o tipo textual refere-se à lógica interna do texto, sua natureza linguística.

Assim, os textos quanto ao tipo classificam-se em: narração, argumentação, descrição. Alguns autores costumam acrescentar a injunção, a prescrição e a exposição nessa tipologia. Com base nessa classificação, teríamos a seguinte disposição dos gêneros:

  • Narrativos: conto, crônica, fábula, romance, novela, diário e biografia.
  • Argumentativos: editorial, resenha, artigo de opinião, carta do leitor e dissertação (de mestrado).
  • Descritivos: guias turísticos, cardápios, lista de classificados e manuais de montagem e uso de equipamentos.

 

Por último, lembremos que os gêneros textuais condicionam o discurso quanto ao tema, estilo e vocabulário. Por exemplo, alguns temas são melhor explorados em um tipo de gênero e não em outros. Do mesmo modo, o registro (formal, informal) e as palavras empregadas dependem do gênero escolhido — dissertação e sátira, por exemplo, têm estilos, forma composicional e vocabulários muito diferentes.